‘É muito decepcionante’, diz mulher de vítima do voo Rio-Paris em 2009 sobre absolvição da Airbus e Air France


O acidente matou 228 pessoas. Renata Mendonça perdeu o marido no acidente. Decisão da Justiça da França que absolveu, nesta segunda-feira (17), as duas empresas. Renata Mendonça perdeu o marido no acidente com o voo Rio-Paris em 2009
Reprodução/ TV Globo
Decepção. É o que resume o sentimento da consultora de comunicação Renata Mendonça com a decisão da Justiça da França que absolveu, nesta segunda-feira (17), a fabricante europeia Airbus e a companhia Air France pela queda do voo AF 447, que fazia o caminho entre o Rio de Janeiro e Paris em 2009. O acidente matou 228 pessoas.
Uma das vítimas é o marido de Renata, Marco Antonio Mendonça.
As duas empresas eram julgadas por homicídio involuntário. Segundo a imprensa francesa, não cabe mais recurso à decisão.
“Hoje é um dia muito difícil para as famílias do AF447, mas eu não vou dizer que estamos surpresos. A gente viu, nas audiências em Paris, em novembro do ano passado, que já dava essa pista para nós. Infelizmente, fomos cobaias, pagamos com a vida dos nossos queridos”, disse Renata após da decisão.
Renata com o marido, Marco Antonio Camargos Mendonça, de 44 anos, e o filho, que tinha 11 meses quando o pai morreu
Arquivo pessoal / BBC
A mulher da vítima conta que, para as famílias, resta a convicção de que o sofrimento ajudou a mudar os protocolos de segurança dos voos.
“A própria aviação, após este acidente, implementou 12 novos regulamentos. Então temos a comprovação de várias falhas técnicas. O que podemos dizer é que o nosso acidente serviu para ajudar e preveniu que outros acidentes viessem a acontecer. Mas é muito decepcionante. O que nos conforta é saber que esse acidente mudou a história da aviação”, disse Renata.
Pouco tempo após o acidente, o Escritório de Investigações e Análise da França divulgou uma lista com novas recomendações de voo. Elas se referem a operação, certificação, transmissão de dados e dados sobre os registradores de voo.
Justiça francesa absolve Air France e Air Bus da responsabilidade pelo acidente com o voo Rio-Paris
O tribunal de Paris responsável pelo caso absolveu as duas empresas por considerar que, embora tenham cometido “falhas”, não foi possível demonstrar “nenhuma relação de causalidade” segura com o acidente.
Ou seja, a Justiça disse entender que nenhum problema técnico do avião provocou a queda da aeronave – que caiu sobre o Oceano Atlântico em 1º de junho de 2009 após passar por uma turbulência severa.
Desde então, comitês de investigação tentam achar o motivo da queda. Em 2011, investigadores franceses, com base em uma busca com submarinos, afirmaram que os pilotos responderam “com falha” a um problema envolvendo sensores de velocidade congelados.
Por conta disso, a aeronave entrou em queda livre e não conseguiu responder aos alertas de estol – quando o avião perde a capacidade de voar.
Equipe da Marinha do Brasil faz o resgate em alto-mar, em junho de 2009, dos destroços do avião da Air France que desapareceu na costa nordestina do Brasil
Agência Estado
Atos de negligência e falta de certeza para responsabilizar
Ao anunciar o veredito, o juiz do tribunal criminal de Paris listou vários atos de negligência de ambas as empresas, mas disse que eles ficaram “aquém da certeza necessária para estabelecer responsabilidade firme pelo pior desastre aéreo”.
“Um provável nexo causal não é suficiente para caracterizar um delito”, disse o juiz ao tribunal lotado.
Ainda assim, a sentença destacou o debate que se gerou após a queda da aeronave sobre problemas técnicos tanto da Airbus quanto da Air France com os sistemas que geram as leituras de velocidade.
Este foi o primeiro julgamento da França por homicídio involuntário corporativo, para o qual a multa máxima é de 225 mil euros (cerca de R$ 1,21 milhão).
Ambas as empresas se declararam inocentes.
VÍDEO: Relembre a queda do voo AF 447 da Air France em 2009
Revolta da família
A decisão desta segunda-feira revoltou parentes das vítimas, que lutavam havia 13 anos para que o caso fosse julgado. Quando os juízes leram a decisão, familiares presentes na sessão choraram e manifestaram revolta.
Antes da leitura da sentença desta segunda, a própria Promotoria da França, que fez a acusação contra a Airbus e a Air France, disse que não havia provas suficientes para culpar as duas empresas. A posição do Ministério Público também revoltou os parentes das vítimas.
Posição das empresas
Após o julgamento, a Air France disse, em nota, se solidarizar com os parentes das vítimas.
“A empresa sempre lembrará a memória das vítimas deste terrível acidente e expressa sua mais profunda compaixão a todos os seus entes queridos”, disse o comunicado.
A Airbus também manifestou solidariedade, mas, em nota, chamou a decisão de “congruente”.

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