Credit Suisse dificultou investigação interna sobre contas vinculadas aos nazistas, dizem senadores dos EUA


Banco começou uma investigação interna após alerta de um centro judaico, mas afirma que não encontrou nenhuma nova informação. Uma flor é vista em uma laje do Memorial do Holocausto em Berlim, na Alemanha, em homenagem às vítimas do nazismo
Markus Schreiber/AP
Um comitê de deputados e senadores dos Estados Unidos afirmou, na terça-feira (19) que o banco suíço Credit Suisse dificultou uma investigação que o próprio banco contratou sobre serviços que a instituição prestou a clientes nazistas ou a contas ligadas a nazistas.
O Credit Suisse contratou os invetigadores depois que uma organização de judeus, o Centro Simon Wiesenthal, afirmou que alguns nazistas que fugiram para a Argentina poderiam ter usado contas do banco.
O Senado dos EUA criou um comitê sobre o assunto e concluiu que o banco atrapalhou a investigação e “inexplicavelmente demitiu” um revisor independente que atuava como supervisor.
O Credit Suisse se defendeu dizendo que a investigação não apresentou nenhuma evidência para apoiar as principais afirmações do Centro Simon Wiesenthal Center a respeito de contas inativas gerenciadas pelo Credit Suisse, que supostamente detinham ativos de vítimas do Holocausto.
Entenda o caso
Muitos alemães foram para a Argentina nas décadas de 1930 e 1940, e uma parte deles era de nazistas que fugiram após a queda de Adolf Hitler.
Em 2020, o centro de pesquisas sobre antissemitismo Simon Wiesenthal anunciou que descobriu informações sobre alemães na Argentina na década de 1930, e que essas informações poderiam auxiliar a localizar contas de bancos ligadas a esses nazistas.
O Centro Simon Wiesenthal afirmou que algumas dessas pessoas que foram para a Argentina tinham contas no Credit Suisse.
Os executivos do Credit Suisse afirmaram que iriam abrir uma investigação sobre dinheiro que havia sido depositado no banco (nos anos 1930, a empresa tinha um outro nome, mas trata-se do mesmo banco).
O Credit Suisse, então, fez duas contratações para investigar os correntistas dos anos 1930:
Uma empresa de investigação de contabilidade, AlixPartners;
Barofsky, um pesquisador independente que foi recomendado pelo centro Simon Wiesenthal.
Barofsky foi promotor nos EUA e, hoje, é de um escritório de advogados.
O banco suíço já tinha feito uma investigação sobre as operações feitas por eles mesmos nos anos do nazismo na Europa: durante a década de 1990, foram identificados valores que pertenciam a vítimas do Holocausto. Em 1998, dois bancos, o Credit Suisse e o UBS, fizeram um acordo para por fim à questão.
Barofsky não chegou a identificar alguma conta ainda ativa que era ligada a nazistas, mas ele ainda não tinha acabado o trabalho dele.
O que ele chegou a descobrir foi que a investigação dos anos 1990 não revelou algumas contas de nazistas. O banco não concorda com essa avaliação de Barofsky.
Barofsky citou especificamente uma conta corrente que era controlada por um oficial nazista e era de uma empresa que explorava judeus. Essa conta foi descoberta pelo banco antes mesmo dos anos 1990, mas, posteriormente, em 2001, o banco disse que não encontrou nenhuma informação sobre a empresa. Representantes do banco negaram ter escondido essa informação: eles disseram ao comitê de congressistas dos EUA que foi um historiador que chamou a atenção para o registro dessa conta.
Barofsky também escreveu que o banco ajudou um empresário ligado aos nazistas a reestruturar uma empresa que, hoje, seria avaliada em milhões de dólares para que seus ativos não fossem confiscados. Representantes do banco disseram que a reestruturação foi feita para esconder os ativos na década de 1930 quando o empresário rompeu com os nazistas, e não durante a guerra.
O tamanho da investigação
Uma equipe de 50 pessoas examinou cerca de 480 mil documentos, o que levou 50 mil horas de trabalho, disse o banco.
“Os investigadores não encontraram nenhuma prova que sustente as acusações do Centro Simon Wiesenthal, segundo as quais numerosos indivíduos de uma lista de 12 mil pessoas na Argentina tiveram contas no Schweizerische Kreditanstalt (SKA), o banco que precedeu o Credit Suisse, durante o período nazista”, afirma-se no comunicado.
A investigação também não encontrou evidências de que oito contas, fechadas há muito tempo, continham ativos de vítimas do Holocausto, de acordo com o texto.
Senado dos EUA diz que há pontos cegos
Uma comissão especial do Senado dos EUA acusou o banco de ter “limitado o campo de buscas internas” e de ter “deixado pontos cegos” em sua investigação.
“Quando se trata de investigar questões de nazismo, a retidão da Justiça impõe não ignorar nenhum detalhe”, disse o senador Chuck Grassley, citado em nota da comissão do Senado, considerando que o banco havia fracassado nesse sentido.
O legislador criticou o Credit Suisse por ter optado por uma abordagem “rígida” em sua investigação e por ter se “recusado a explorar novas pistas”.
Por sua vez, o Centro Simon Wiesenthal, que persegue criminosos nazistas, apontou que a decisão do banco de parar de colaborar com o mediador prejudica sua confiança em uma “revisão histórica justa, independente e transparente”.

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