Marcha silenciosa marca 108 anos do genocídio armênio


Massacre de 1,5 milhão de pessoas ocorreu entre 1915-1923 e governo da Armênia alerta para risco de novo extermínio. Em Ierevan, na Armênia, Hripsime Gabrielyan com as duas filhas (esq.) e Karin Aroian e o marido (dir.) participaram da cerimônia para lembrar os 108 anos do genocídio armênio, em 24 de abril de 2023
Betina Anton/g1
Centenas de pessoas subiram, nesta segunda-feira (24), em silêncio, a colina que leva ao memorial em Ierevan, capital do país. Idosos, jovens e crianças marcharam juntos e depositaram flores para lembrar os mortos do primeiro genocídio do século 20.
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Hripsime Gabrielyan levou as duas filhas gêmeas de oito anos. “Não tenho nenhum parente que morreu nessa tragédia, mas venho todo ano na marcha. É um dever como armênio e a data precisa ser lembrada.”
Armênia faz marcha silenciosa para lembrar 108 anos de genocídio
O dia 24 de abril é feriado nacional na Armênia para homenagear as vítimas. Virou um marco porque, em 1915, autoridades turcas prenderam 250 intelectuais armênios em Constantinopla, atual Istambul. Todos foram assassinados. Foi o começo de uma campanha sistemática de violência contra a minoria armênia que vivia dentro do Império Otomano, o estado que antecedeu a Turquia.
As lembranças do massacre reverberam até hoje e marcam a história de muitas famílias. A armênia-americana Karin Aroian acompanhou a marcha ao lado do marido e se emocionou ao contar como a avó conseguiu sobreviver, quando tinha apenas seis anos de idade. “Ela estava colhendo morangos no alto de um morro com a avó dela, quando viram as forças turcas se aproximando. As duas se abaixaram e esperaram até a noite, só então fugiram. Toda a vila de Keghi, onde moravam, foi massacrada.”
O genocídio provocou a diáspora do povo armênio para diversos países, entre eles o Brasil. Não existe um censo sobre essa população, mas a União Geral Armênia de Beneficência calcula que entre 40 mil e 50 mil descentes de armênios vivam, hoje, no país, a maioria em São Paulo.
A grande luta entre os armênios da diáspora e os que vivem na Armênia é o reconhecimento internacional de que o massacre foi um genocídio. Esse termo, criado em 1944 pelo jurista polonês Raphael Lemkin, significa a destruição em massa de um grupo étnico por outro.
Estados Unidos, Alemanha e Áustria fazem parte dos países que reconhecem o genocídio. O governo brasileiro ainda não reconheceu, apenas o Senado Federal, em 2015. Na época, o Ministério dos Negócios Estrangeiros turco retirou seu embaixador em Brasília em sinal de protesto. O maior obstáculo para o reconhecimento mais amplo do genocídio é a posição oficial da Turquia, que afirma que os massacres iniciados em 1915 foram consequência da Primeira Guerra Mundial.
Hoje, o Ministério das Relações Exteriores da Armênia divulgou uma nota expressando preocupação com o risco de um novo extermínio, afirmando que “armênios que vivem em Nagorno-Karabagh enfrentam o risco de genocídio e limpeza étnica.”
Esse território é um enclave dentro do Azerbaijão, mas tem maioria armênia. Desde o dia 12 de dezembro do ano passado, os azeris fecharam a única estrada para sair do enclave, o corredor de Lachin. Desde então, cerca de 120 mil armênios em Nagorno-Karabagh estão isolados do resto do mundo. Apenas a Cruz Vermelha Internacional e observadores russos têm acesso ao território.
O Instituto Lemkin para Prevenção do Genocídio, com sede na Pensilvânia, nos Estados Unidos, alertou em seu último relatório anual que o povo armênio que vive em Nagorno-Karabagh é, hoje, um dos mais ameaçados do mundo.
A repórter viajou a convite da União Geral Armênia de Beneficência (Ugab)

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